sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Olhar de criança

Deixa-te levar pelo menino que foste (J. Saramago)


Ser mãe, pai ou ter uma criança por perto é relembrar aquele olhar. O olhar que um dia também foi nosso. Despido de vícios, desconfianças e pré-julgamentos. Olhar aberto e sedento por captar o mundo.

A criança é movida pela curiosidade e interessa-se por tudo o que a cerca. Cada passo traz novas descobertas e novos fascínios. As formigas, os gravetos, o pó que reluz ao sol. A tampa do pote, a dobradiça, o algodão. O mínimo, o minúsculo, tudo aquilo que se tornou opaco para o olhar adulto. Coisas prosaicas, pequenos tesouros.

Quem escreve para crianças esforça-se por resgatar este olhar. Fixa a tela em branco enquanto procura diluir a razão arrogante que orienta os dias em boas doses do encantamento simples, direto e puro do olhar infantil. Simples porque sem frescuras, direto porque sem rodeios, puro porque livre de preconceito.

Recuperar o olhar de criança, porém, não é fácil. Mas alguns escritores e poetas parecem simplesmente nunca tê-lo perdido. É o caso de Manoel de Barros e de Mario Quintana, para ficar em dois exemplos bastante conhecidos. Em “Lili inventa o mundo”, Quintana nos brindou com maravilhas do olhar infantil, mostrando que tinha muito viva dentro de si a criança que um dia fora:

“O hipopótamo é um bruto sapatão afogado”.
“O gato é preguiçoso como uma segunda-feira”.
“As pulgas saltam tanto porque também têm pulgas”.
“A esperança é um urubu pintado de verde”.

E talvez a mais linda delas:
“Sonhar é acordar-se para dentro”.

Nessa busca do escritor pelo olhar infantil, é precioso o pequeno volume de Javier Naranjo, “Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças”, lindamente ilustrado por Lara Sabatier e editado no Brasil pela Foz.

Naranjo, escritor e professor colombiano do ensino primário, dá voz aos seus alunos, compartilhando conosco as suas palavras e o modo como as crianças definiram, em atividades de sala de aula, não apenas coisas tangíveis, mas também sentimentos e conceitos mais abstratos. Palavras e definições que revelam o olhar infantil sobre o amor, o ódio, o sol, a escuridão, o tempo, a morte, a família, a mãe, o pai, o louco e até mesmo o poeta.

O poeta é “alguém que descobriu algo no mundo” para Nelson, de 9 anos; é “qualquer pessoa que voa pelo ar”, para Sandra, de 7. A pessoa é uma coisa humana, a guerra é ficar com a vida uma bagunça. Água é a transparência que se pode tomar. Vazio é sem ninguém dentro. Ódio é quando não queremos fazer o que mandam. Medo é quando chega alguém lá em casa e eu levanto para ver quem é. Morte é uma coisa que não volta. Tempo é esperar os outros.

As palavras das crianças trazidas pelo livro emocionam, nos fazem rir e chorar. Talvez pela saudade da criança que fomos, talvez pela vontade de simplesmente resgatar aquele olhar. Deixar-se encantar pelo mundo, apesar de tudo: dos horrores vários, do tédio, da falta de sentido. Redescobrir a alegria de explorar e conhecer, de sentir com os dedos e com a alma.


Fundir o nosso olhar cotidiano com o jeito de ver o mundo das crianças não é uma experiência importante apenas para quem escreve literatura infantil, mas pode ser para lá de interessante e fonte de prazer para qualquer pessoa, ajudando a espanar o pó das nossas retinas,  renovando o olhar e criando novos significados.


Letícia Möller

Texto originalmente  publicado em minha coluna no 
Portal Artistas Gaúchos, em fevereiro de 2016.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Os peixes, o vovô e o tempo

Meu novo livro infantil, editado pela Libretos, com lindas ilustrações da Carla Pilla!



CONHEÇA UM POUCO MAIS:

Helô é uma menina sensível e curiosa. Quando o peixinho dourado que muito amava morre, Helô toma uma atitude por impulso e emoção que desconcerta seus familiares. Magoada e sem saber se o que fez é ou não errado, a menina busca refúgio na casa do vô Emilio. A conversa, o aconchego, o ouvido atento e as palavras de carinho e sabedoria do avô irão confortar Helô e fazê-la compreender algumas coisas sobre a perda e a finitude, ao mesmo tempo em que percebe a força e a beleza da memória, que eterniza aqueles que amamos.

* * *

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Lançamento de Os peixes, o vovô e o tempo na Livraria Cultura

No dia 11 de julho, a Helô, os peixinhos e o vovô estiveram zanzando pela Livraria Cultura de Porto Alegre, espiando o bate-papo sobre eles, que acontecia logo ali no auditório... Vocês querem espiar também?



Bate-papo descontraído com a plateia, com a participação da Carla Pilla,
responsável pelas lindas ilustrações do livro,
e a psicanalista Luciana Wickert, que nos ajudou
a refletir sobre o tema da história. 



Na primeira fila o querido Yuji Schmidt, que ilustrou o 
"Fidalgo, Finório e Firula", meu primeiro infantil pela Libretos..



Luciana Wickert.



Carla Pilla.


O mulherio. A valente e incansável Clô Barcellos, editora da Libretos.


Ganhando o apoio do meu querido filhote Martin!




Dê-lhe autografar! Felizmente...





Meus três amores: Josué, Thomas e Martin!



Obrigada a todos os amigos, familiares e leitores pela presença!

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Os peixes em Gramado!

Dia 15 de junho foi o pré-lançamento de Os peixes, o vovô e o tempo na Feira do Livro de Gramado!

Minha super editora Clô e eu subimos felizes a serra para os autógrafos e a conversa com as crianças. O frio de 2 graus não foi páreo para nós... por sorte um sol gostoso aquecia um pouco a gente. E, é claro, o que mais aquece a gente é um bom papo com pessoas queridas!

Com a equipe da feira, e a querida mediadora
do encontro, a professora Lia Furlan (de cachecol vermelho).










OBRIGADA PELO CARINHO!

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Lembranças de um encontro marcante!

Nossa! O tempo passou que nem foguete e as notícias por aqui ficaram desatualizadas...

2014 foi um ano de muitos e belos encontros com meus pequenos leitores. Faltou contar de um dos encontros mais marcantes do ano que passou: a visita à Escola Onofre Pires e a seus queridos alunos!

A visita, que reuniu um grupo de escritores da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto-juvenil, fez parte de uma ação promovida pela AEILIJ de arrecadação de livros para ajudar a recompor o acervo da biblioteca da escola, consumido pelas chamas em um incêndio criminoso ocorrido em 2014. Anna Claudia Ramos, Sônia Barros, Jorge Martinns Martins, Deise Macedo e eu, tivemos momentos de muita alegria na escola, conversando com todos os alunos. Foi um encontro especial!



Que carinhas apaixonantes!



Os gatinhos Fidalgo, Finório e Firula, que não aparecem nas fotos,
estiveram por lá para alegrar a gurizada!


Com professora e a diretora da escola, Lucy Piccolotto, e as escritoras
Anna Claudia Ramos,Sônia Barros e Deise Macedo.

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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Livro novo! Pré-lançamento na Feira do Livro de Gramado

Tem livro novo meu chegando! O pré-lançamento será na 19a Feira do Livro de Gramado. A Helô, o vô Emilio, os peixinhos e eu esperamos vocês!